| Breve notícia sobre a cidade de Pelotas
 Devemos ao pintor  francês Jean-Baptiste Debret o retrato, no início do século XIX, dos “barcos de  couro” do sul do Brasil, conhecidos como “Pelotas”. Cidade que tem seus primórdios  por volta de 1780, com a fundação das charqueadas, ela tornou-se rapidamente o  maior pólo saladeiril sul-riograndense, sendo que, dentre os primeiros  charqueadores, destaca-se o nome de Domingos de Almeida, um dos principais  articuladores intelectuais da Revolução Farroupilha. A opulência econômica da  cidade fez seu nome não somente figurar no mapa  mundi, mas possibilitou a formação de diversos de seus habitantes em solo  europeu, de onde também trouxeram toda a influência cultural e arquitetônica ‒  fixadas em seguida na linguagem coloquial que, naquela época, passou a designar  o local como “Atenas do Sul” e “Princesa do Sul”.
 
 
 
  Praça Cel Pedro Osório esquina Lobo da Costa, fonte Almanaque do Bicentenário de Pelotas
 
 
  Chafariz da Pça Cel Pedro Osório em 1940, ao fundo o Grande Hotel
 
 Cidade que  atraiu viajantes e cronistas como Saint-Hilaire e Arsène Isabelle, ela foi elevada  à condição de freguesia em 1812 e, já no final do século XIX, tinha “praticamente  a mesma população de Porto Alegre e São Paulo”. Economia que construiu o  primeiro barco a vapor no Brasil, se, por um lado, ela cresceu baseada na  mão-de-obra escrava, por outro ela produziu personalidades políticas como Ferreira  Viana (o autor do projeto de abolição da escravatura no Brasil) e Álvaro Chaves  (que reorganizou o Partido Republicano no Rio de Janeiro e fundou o Clube  Republicano sul-riograndense). Diga-se, de passagem, que Pelotas é a única  cidade brasileira a erguer um obelisco em favor da República em pleno regime  monárquico. E é ainda o passado escravista da cidade e sua Biblioteca Pública  erguida em 1875 que atraíram para cá muito pesquisadores, dentre eles o  sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que nela encontrou subsídios para sua tese Capitalismo e escravidão no Brasil  Meridional.  Pelotas Igreja Matriz, em 1902
 
 
  
 Sede do Banco Pelotense, atualmente Sede do Banrisul em Pelotas
 
 O resultado da  opulência econômica e cultural fez-se sentir não apenas nos chafarizes  importados da França (verdadeiros cartões postais da urbe até os dias de hoje), mas, sobretudo, nas letras e nas artes:  do poeta Lobo da Costa ao intelectual e escritor urbano João Simões Lopes Neto  (que comporia os Contos Gauchescos e  as Lendas do Sul ‒ obras que  influenciariam o escritor Guimarães Rosa na composição de Grande Sertão: Veredas). É daqui também que saem o Patrono da  imprensa no Brasil (Hipólito José da Costa) e as primeiras médicas formadas no país.  Já na pintura destaca-se o nome de Leopoldo Gotuzzo, e na escultura o de Antonio  Caringi (um dos maiores escultores gaúchos). Pelotas é também o berço do Teatro  7 de Abril (um dos mais antigos teatros brasileiros), e do Conservatório de  Música, a segunda instituição fundada para o ensino de música no Rio Grande do  Sul e a sexta no Brasil, com atividades ininterrupta até os dias de hoje. Não é  ao acaso, portanto, que o cenário musical tenha dado ao cenário musical uma intérprete  lírica como a soprano Zola Amaro. É aqui também que viveu, durante sua infância  e adolescência, Mário Ferreira dos Santos, considerado por muitos como um nome  de destaque no cenário filosófico brasileiro.
 
  Pelotas, público no interior do Teatro 7 de Abril
 
 O Programa de  Pós-Graduação em Filosofia, bem como o Departamento de Filosofia, tem assim o  prazer de receber seus convidados nesta “capital cultural”, onde se destaca, no  Brasil Meridional, a Universidade Federal de Pelotas com seus 101 cursos de  graduação, 14 cursos de Doutorado e 39 cursos de Mestrado. Prof. Luís Rubira |